Lembro-me das vezes que as peguei no colo, brinquei, cantei, dancei, corri só para vê-las sorrir. Um beijo, um cheiro e em troca o meu quarto e meus ursos de pelúcia se transformavam no lugar ideal para uma diversão. Cada gesto e movimento era esperança de um futuro feliz. Sonhava acordada em poder levá-las a um parque, um shopping ou uma praia e podermos andar juntas de mãos dadas.
Não tinham maldades, pareciam anjos; ou melhor, eram verdadeiros anjinhos. Mesmo assim faziam-me sofrer. Sofria por não poder presenteá-las com a cura. Cada ida ao hospital era uma angustia. E cada alta hospitalar era um alívio. Questionava se Deus estava permitindo tudo isso ou se não tinha conhecimento do nosso sofrimento.
Até que um dia elas foram ao hospital e nunca mais voltaram pra casa. Partiram. A saudade aperta com o passar do tempo e machuca bastante, pois dessa vez não poderei matar a saudade. O lado bom dessa saudade é que através dela lembro-me de duas bonequinhas lindas; ou melhor, dois anjinhos.